Luís Baptista-Martins, 45 anos, diretor do jornal O
INTERIOR e ex-aluno da ESAAG
1)Em
termos de livros, o que anda a ler e o que tem lido recentemente?
Nos tempos mais recentes recordo a leitura de “Um
mundo de Estranhos” de Nadine Gordimer, uma obra sublime sobre um tempo de
violência e complexidade, o do “apartheid”, na Áfica do Sul. E “Cidade Proibida”
de Eduardo Pitta, um crítico literário e poeta que se aventura na ficção como
narrador autoritário numa obra que me surpreendeu sobre uma «certa Lisboa»
contemporânea.
O último livro que li foi “Dentro do Segredo”, de José
Luís Peixoto, que nos conduz por uma surpreendente viagem ao quotidiano da
sociedade mais fechada do mundo, a Coreia do Norte. É uma obra de literatura de
viagem, com relatos surpreendentes sobre as exuberantes comemorações do
centenário do nascimento de Kim Il-sung, em Pyongyang, entre tantos outros
episódios impressionantes da vida e da sociedade num país de que sabemos muito
pouco. São muitos episódios e pequenas histórias deprimentes de vidas sem
horizontes dentro da ditadura mais repressiva do mundo. Não é uma obra de
ficção fascinante como o “Cemitério de Pianos”, mas é um olhar atento e
retratista de uma sociedade desconhecida que José Luís Peixoto procura retratar.
2)Refira
uma impressão positiva de uma dessas leituras
Mais recentemente li “O filho de mil
homens”, de Valter Hugo Mãe, que é uma história apaixonante sobre um homem que
chegado aos quarenta anos encontra a imensa tristeza de não ser pai; do sonho
de encontrar uma criança que o prolongue. É uma história sobre temas tão
basilares à vida humana como o amor, a paternidade e a família. É fascinante
como o narrador nos faz sentir que o amor, sendo uma pacificação com a nossa
natureza, tem o poder de a transformar.
Ao ler “O filho de mil homens” encontramos uma apurada
sensibilidade e percebemos o quanto é enriquecedor ler um livro. Ou, como
diria Carlos Drummond de Andrade, «a literatura, tal como as artes plásticas e
a música, é uma das grandes consolações da vida» - por isso gosto tanto de
livros, de os ler, de os sentir, de os respirar (e talvez por isso organizei quatro
grandes feiras do Livro na Guarda, entre 2002 e 2008).
3)Qual
a sua rotina semanal de leitura de jornais e outros periódicos?
Começo o dia a ler ou folhear o “Público”, de que sou
assinante. Posso também ver algum outro jornal diário se algum título me chamar
a atenção, nomeadamente o “i”. Vejo online alguns jornais, nomeadamente o “El
País”. E semanalmente o “Expresso” e o “O INTERIOR”, por motivos óbvios, e
porque sendo de facto o melhor jornal da região, é o único jornal
regional que leio, além do “Jornal do Fundão”. Quando tenho
tempo ainda me aventuro por alguma outra publicação, nomeadamente a revista
“Visão”.