quinta-feira, 16 de maio de 2013

CLUBE DOS POETAS VIVOS

LUÍS QUINTAIS


     Durante o mês de maio, o Clube de Leitura promove a divulgação no Centro de Recursos de poemas do poeta e antropólogo, nascido em Angola (1968), Luís Quintais. Presentemente leciona no Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra.
     Publicou o seu primeiro livro de poesia em 1995, A Imprecisa Melancolia (Teorema e Lumen). Em 1999 regressa à poesia, publicando Umbria (Pedra Formosa) e Lamento (Livros Cotovia). Posteriormente publicou Verso Antigo (2000), Angst (2003), Duelo (2004),  Canto Onde (2006) e Mais espesso que a água (2008), todos pelos Livros Cotovia. Com Duelo venceu a oitava edição do Prémio de Poesia Luís Miguel Nava referente a 2005. Luís Quintais tem um página pessoal na NET, participou no blog casmurro e no Webqualia. Atualmente, anima Os livros ardem mal.

A PROEMINÊNCIA DA MÃO DIREITA 

É a mão direita que domina.
A esquerda obedece
cegamente.
É a mão direita que fere.
A esquerda consola.
É a mão direita que disciplina,
brutaliza.
A esquerda, é o exercício
próximo e doméstico
de afagar
o que a comove, o que
recatadamente a silencia.
Esta é a terra,
os modos de nela me orientar:
as minhas mãos, a proeminência
da direita sobre a esquerda,
o que toda a vida quis negar.


sexta-feira, 10 de maio de 2013

3 PERGUNTAS A QUEM LÊ


Luís Baptista-Martins, 45 anos, diretor do jornal O INTERIOR e ex-aluno da ESAAG

     1)Em termos de livros, o que anda a ler e o que tem lido recentemente?
     Nos tempos mais recentes recordo a leitura de “Um mundo de Estranhos” de Nadine Gordimer, uma obra sublime sobre um tempo de violência e complexidade, o do “apartheid”, na Áfica do Sul. E “Cidade Proibida” de Eduardo Pitta, um crítico literário e poeta que se aventura na ficção como narrador autoritário numa obra que me surpreendeu sobre uma «certa Lisboa» contemporânea.
     O último livro que li foi “Dentro do Segredo”, de José Luís Peixoto, que nos conduz por uma surpreendente viagem ao quotidiano da sociedade mais fechada do mundo, a Coreia do Norte. É uma obra de literatura de viagem, com relatos surpreendentes sobre as exuberantes comemorações do centenário do nascimento de Kim Il-sung, em Pyongyang, entre tantos outros episódios impressionantes da vida e da sociedade num país de que sabemos muito pouco. São muitos episódios e pequenas histórias deprimentes de vidas sem horizontes dentro da ditadura mais repressiva do mundo. Não é uma obra de ficção fascinante como o “Cemitério de Pianos”, mas é um olhar atento e retratista de uma sociedade desconhecida que José Luís Peixoto procura retratar. 

     2)Refira uma impressão positiva de uma dessas leituras
    Mais recentemente li “O filho de mil homens”, de Valter Hugo Mãe, que é uma história apaixonante sobre um homem que chegado aos quarenta anos encontra a imensa tristeza de não ser pai; do sonho de encontrar uma criança que o prolongue. É uma história sobre temas tão basilares à vida humana como o amor, a paternidade e a família. É fascinante como o narrador nos faz sentir que o amor, sendo uma pacificação com a nossa natureza, tem o poder de a transformar.
    Ao ler “O filho de mil homens” encontramos uma apurada sensibilidade e percebemos o quanto é enriquecedor ler um livro. Ou, como diria Carlos Drummond de Andrade, «a literatura, tal como as artes plásticas e a música, é uma das grandes consolações da vida» - por isso gosto tanto de livros, de os ler, de os sentir, de os respirar (e talvez por isso organizei quatro grandes feiras do Livro na Guarda, entre 2002 e 2008).

3)Qual a sua rotina semanal de leitura de jornais e outros periódicos?
     Começo o dia a ler ou folhear o “Público”, de que sou assinante. Posso também ver algum outro jornal diário se algum título me chamar a atenção, nomeadamente o “i”. Vejo online alguns jornais, nomeadamente o “El País”. E semanalmente o “Expresso” e o “O INTERIOR”, por motivos óbvios, e porque sendo de facto o melhor jornal da região, é o único jornal regional que leio, além do “Jornal do Fundão”. Quando tenho tempo ainda me aventuro por alguma outra publicação, nomeadamente a revista “Visão”.

 

 

LER OS MEDIA 3
 
As conferências de imprensa filmadas são uma anedota. Os sítios onde os jornalistas se colocam para os diretos têm que ser de forma a que o homem da câmara apanhe a mesa mas não pode ser a mais de dois ou três metros de distância. Resultado: incómodos para os restantes profissionais e uma figura ridícula que os jornalistas fazem com a sua voz a sobrepor-se à do entrevistado após a pergunta feita pela estação. Para já não falar no descaramento que é fazer a mesma pergunta a que o entrevistado já respondeu “agora em direto para o canal X”… Que racionalidade é a de fazer a mesma pergunta só para justificar o direto? Porque não há uma vedeta ou político que diz "Já respondi a essa pergunta e o senhor já gravou."?
O dia em que escrevo este texto é dia de futebol e, ao ouvir as perguntas dos jornalistas aos treinadores nos três canais de informação da TV Cabo, não conseguimos ver a cara dos jornalistas que não são da própria estação. Para quando um acordo entre as televisões de forma a mostrar a cara de quem faz as perguntas, sejam da nossa ou de outra estação? Não acham que o público ficaria mais bem servido?