quinta-feira, 4 de abril de 2013

3 PERGUNTAS A QUEM LÊ



Nome: Rosa Ramos
Idade: 29 anos
Profissão: Jornalista no diário "i"
Ex-aluna da ESAAG

1)Em termos de livros, o que anda a ler e o que tem lido recentemente?
 A leitura é um dos exercícios mais importantes que nos podem acompanhar ao longo da vida. Nos primeiros anos, porque nos ensina a escrever e a organizar o pensamento. Mais tarde, porque nos ensina a pensar e até a formar algum carácter. E pela vida fora, porque nos permite viajar sem sair do lugar e acumular conhecimento. Ler é uma viagem da alma. Sem custos, sem que seja preciso sair do lugar. Através da leitura, as nossas próprias histórias e vozes ganham voz. A leitura é, por isso, um exercício quase transcendental, em que a voz do escritor se funde com a voz remota e interior do leitor. No meio da agitação do dia-a-dia e das imensas solicitações que a vida nos exige, é por vezes complicado cumprir este exercício. Admito que não leio tudo o que deveria ler, tudo o que poderia ler e, acima de tudo, tudo o que gostaria de ler. Fiz uma descoberta recente: o valter hugo mãe. Uma das vozes da nova Literatura portuguesa - e uma voz extraordinária. "A máquina de fazer espanhóis" é um livro absolutamente espantoso. Há relativamente pouco tempo, li também "A sangue frio", do Truman Capote. Outra obra extraordinária e que inaugurou, na década de 1960, um novo género de Literatura, em que o estilo jornalístico - mecânico, descritivo e por vezes demasiado cru - se confunde com o género romance. Mais recentemente, reli um dos meus livros favoritos de um dos meus escritores favoritos, "Os cus de Judas", do António Lobo Antunes, que recentemente anunciou que se iria retirar do mundo dos livros. É curioso compreender como as grandes obras nos aparecem sempre de maneira diferente, de todas as vezes em que insistimos voltar a elas. Anteontem, peguei num outro livro, num estilo completamente diferente, do padre e poeta Tolentino de Mendonça, "Um Deus que dança" - um conjunto de reflexões, em que a poesia se mistura com a espiritualidade.

  2)Refira uma impressão positiva de uma dessas leituras.
Tira-se, de todas as leituras, uma impressão positiva. Ou um pedaço de experiência que mais tarde se recorda ou se utiliza. De uma forma ou de outra. Parte desta minha descoberta em relação aos livros passou, precisamente, pela Afonso de Alburquerque - tive a sorte de ter uma professora extraordinária, a professora Alcina, que sempre nos incentivou para a importância e, sobretudo, para o prazer de ler. No caso do livro "A sangue frio", do Truman Capote, retirei sobretudo o saber fazer: a construção da narrativa é notável. E é um livro capaz de agarrar o leitor do princípio ao fim. O autor utiliza técnicas curiosas - provavelmente inspiradas nas técnicas jornalísticas - para conseguir criar esse efeito. O livro contra a história, verídica, de dois homicidas, condenados à cadeira eléctrica e que assassinaram uma família inteira nos Estados Unidos. A história - que acompanha os dois homens desde o planeamento do crime, à sua execução, passando pelas consequências - é contada de forma notável por um jornalista. E uma leitura obrigatória para todos os que apreciem o género policial e, sobretudo, para aqueles que queiram aprender a escrever.
  
 3)Qual a sua rotina semanal de leitura de jornais e outros periódicos?
A minha relação com os jornais é, porventura, um pouco atípica. Sou jornalista e trabalho num jornal diário. Consequentemente, todos os meus dias começam, precisamente, com a leitura de todos os jornais. É preciso olhar para o trabalho dos colegas numa perspetiva crítica e precisamos de estar permanentemente a par do que está a acontecer no país e no mundo. Aos fins-de-semana, e quando não estou na redação, prefiro comprar revistas. É interessante perceber a arrumação que fizeram da semana (das histórias que os jornais contaram diariamente) e a forma como contam os assuntos. Mais aprofundada, trabalhada com mais tempo. Atualmente, é muito difícil explicar às pessoas - especialmente aos jovens da vossa idade - qual é a mais-valia dos jornais. Hoje, a informação acontece minuto a minuto. E chega-nos de forma gratuita. No i-phone. No computador. Na rádio e na televisão. O papel dos jornais é explicar essa informação, que acontece minuto a minuto. O dinheiro que se gasta num jornal é um investimento no saber, na cultura e um contributo para a própria democracia. E em tempos tão conturbados como aqueles que atravessamos, o papel do jornalista e dos jornais - de mediadores e "explicadores" da realidade - afigura-se cada vez mais importante.

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