Nome: Rosa Ramos
Idade: 29 anos
Profissão: Jornalista no diário "i"
Ex-aluna da ESAAG
1)Em termos de livros, o que anda a ler e
o que tem lido recentemente?
A leitura é um dos exercícios mais
importantes que nos podem acompanhar ao longo da vida. Nos primeiros anos,
porque nos ensina a escrever e a organizar o pensamento. Mais tarde, porque nos
ensina a pensar e até a formar algum carácter. E pela vida fora, porque nos
permite viajar sem sair do lugar e acumular conhecimento. Ler é uma viagem da
alma. Sem custos, sem que seja preciso sair do lugar. Através da leitura, as
nossas próprias histórias e vozes ganham voz. A leitura é, por isso, um
exercício quase transcendental, em que a voz do escritor se funde com a voz
remota e interior do leitor. No meio da agitação do dia-a-dia e das imensas
solicitações que a vida nos exige, é por vezes complicado cumprir este
exercício. Admito que não leio tudo o que deveria ler, tudo o que poderia ler
e, acima de tudo, tudo o que gostaria de ler. Fiz uma descoberta recente:
o valter hugo mãe. Uma das vozes da nova Literatura portuguesa - e uma voz
extraordinária. "A máquina de fazer espanhóis" é um livro absolutamente
espantoso. Há relativamente pouco tempo, li também "A sangue frio",
do Truman Capote. Outra obra extraordinária e que inaugurou, na década de 1960,
um novo género de Literatura, em que o estilo jornalístico - mecânico,
descritivo e por vezes demasiado cru - se confunde com o género romance. Mais
recentemente, reli um dos meus livros favoritos de um dos meus escritores
favoritos, "Os cus de Judas", do António Lobo Antunes, que
recentemente anunciou que se iria retirar do mundo dos livros. É curioso compreender
como as grandes obras nos aparecem sempre de maneira diferente, de todas as
vezes em que insistimos voltar a elas. Anteontem, peguei num outro livro, num
estilo completamente diferente, do padre e poeta Tolentino de Mendonça, "Um Deus que dança" - um conjunto de reflexões, em que a poesia se
mistura com a espiritualidade.
2)Refira uma impressão positiva de
uma dessas leituras.
Tira-se, de todas as leituras, uma
impressão positiva. Ou um pedaço de experiência que mais tarde se recorda ou se
utiliza. De uma forma ou de outra. Parte desta minha descoberta em relação aos
livros passou, precisamente, pela Afonso de Alburquerque - tive a sorte de ter
uma professora extraordinária, a professora Alcina, que sempre nos incentivou
para a importância e, sobretudo, para o prazer de ler. No caso do livro "A
sangue frio", do Truman Capote, retirei sobretudo o saber fazer:
a construção da narrativa é notável. E é um livro capaz de agarrar o
leitor do princípio ao fim. O autor utiliza técnicas curiosas - provavelmente
inspiradas nas técnicas jornalísticas - para conseguir criar esse efeito. O
livro contra a história, verídica, de dois homicidas, condenados à cadeira
eléctrica e que assassinaram uma família inteira nos Estados Unidos. A
história - que acompanha os dois homens desde o planeamento do crime, à sua
execução, passando pelas consequências - é contada de forma notável por um
jornalista. E uma leitura obrigatória para todos os que apreciem o género
policial e, sobretudo, para aqueles que queiram aprender a escrever.
3)Qual a sua rotina semanal de
leitura de jornais e outros periódicos?
A minha relação com os jornais é,
porventura, um pouco atípica. Sou jornalista e trabalho num jornal diário.
Consequentemente, todos os meus dias começam, precisamente, com a leitura
de todos os jornais. É preciso olhar para o trabalho dos colegas numa
perspetiva crítica e precisamos de estar permanentemente a par do que está a
acontecer no país e no mundo. Aos fins-de-semana, e quando não estou na
redação, prefiro comprar revistas. É interessante perceber a arrumação que
fizeram da semana (das histórias que os jornais contaram diariamente) e a forma
como contam os assuntos. Mais aprofundada, trabalhada com mais tempo.
Atualmente, é muito difícil explicar às pessoas - especialmente aos jovens da
vossa idade - qual é a mais-valia dos jornais. Hoje, a informação acontece
minuto a minuto. E chega-nos de forma gratuita. No i-phone. No computador. Na
rádio e na televisão. O papel dos jornais é explicar essa
informação, que acontece minuto a minuto. O dinheiro que se
gasta num jornal é um investimento no saber, na cultura e um contributo para a
própria democracia. E em tempos tão conturbados como aqueles que atravessamos,
o papel do jornalista e dos jornais - de mediadores e "explicadores"
da realidade - afigura-se cada vez mais importante.
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