segunda-feira, 11 de março de 2013

RELER AQUELA PASSAGEM

     Já reli Os Maias uma dúzia de vezes por dever profissional e de cada vez que o releio há sempre imensas coisas que descubro ou que me impressionam ainda mais que na primeira vez. É por exemplo em cada nova leitura o caso da famosa cena do Guimarães, à saída do sarau da Trindade, a dizer ao Ega que tem lá um cofrezinho da Maria Monforte que quer entregar à família, ao Carlos ou à irmã. A surpresa de Ega (que responde que Carlos não tem irmãos) é também a nossa e a confirmação de que o Guimarães os vira a ele, ao Carlos e à "irmã" numa carruagem deixa-nos também a nós boquiabertos. E depois é toda aquela cena com o Ega a fingir que afinal ele sabia mas que não queria que se soubesse, tudo fita que nós gozamos, connosco a saber e com a outra personagem sem compreender. Será que é este poder que nos é dado (saber mais que as personagens) que nos satisfaz e nos dá a ilusão de um poder que nunca imagináramos? E logo a seguir, já com o cofre guardado, é a nossa tranquilidade de burgueses leitores diante do drama que se coloca diante da personagem Ega, que não sabe para onde se há de virar. E nós a ver aquela dança de sentimentos...
     Vale a pena (re)ler Os Maias.
Joaquim Igreja, professor de Português

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