sábado, 17 de novembro de 2012

3 Perguntas a quem lê


José Carlos Lopes,
professor de Biologia e Geologia na ESAAG:


1)Em termos de livros, o que anda a ler e o que tem lido recentemente?
Ando a ler o “Mixórdia de temáticas” do Ricardo Araújo Pereira. Sei que vai parecer uma leitura pouco recomendável, no entanto considero-o um dos mais brilhantes guionistas portugueses de sempre. Possui um espírito mordaz e uma forma particular de ver a sociedade portuguesa. Tive o prazer de participar com ele na recriação de alguns dos “sketches” deste livro, aquando da sua vinda recente à nossa cidade.
Antes andava, e andarei, a ler um livro de viagens de Joaquim Magalhães Couto intitulado “Mar das Especiarias” que relata a sua passagem por algumas das centenas de ilhas que compõem a nação da Indonésia. O que mais me marcou, até agora, é a grande presença dos portugueses na sua cultura, gastronomia, e língua. Pois é, nomes de família, nomes de ruas, nomes de objetos do quotidiano, estão bem vivos na língua e dialetos indonésios. Assim temos os rajás Da Silva, o guardião Pareira (Pereira), o sol sepatu (sola do sapato), pintur ( pintor), pidagu (fidalgo), pilotu (piloto), grandi brebu (grande bêbado), djugador (jogador), doktor (doutor), peskador (pescador), grandi kondi (grande conde), oriwis (ourives), um marchador (mercador), enfim, milhares de termos de origem portuguesa aculturados por este povo. Muito interessante, mas ainda não acabei de ler.
Em termos de romances li “Os pilares da Terra” do Ken Follet. A história gira à volta da construção de uma catedral num priorado na Inglaterra profunda e medieval e atravessa três gerações. Dá-nos um instantâneo com uma definição extrema do que era o sofrimento do povo às mãos dos senhores feudais e, principalmente da Igreja católica. O poder obsceno que esta tinha nessa altura, bem como os jogos de poder que se estabeleciam entre os poderosos deixando à margem, a morrer à fome toda uma classe de desgraçados. Ontem como hoje a história ainda se repete.

2)Refira uma impressão positiva de uma dessas leituras.
“O último segredo”, do José Rodrigues dos Santos, pega na Bíblia e disseca-a ao pormenor, expondo as contradições, imprecisões e incoerências existentes entre os vários evangelhos, sempre com uma análise científica rigorosa e mordaz acerca dos personagens bíblicos e que alega que Jesus, a ter existido, não passava de um dissidente da religião judaica, um radical, e que terá criado uma seita, o cristianismo, que, para conquistar rapidamente adeptos para a sua causa, anulou a obrigatoriedade do descanso aos sábados ou sabath. Muito interessante, mas impróprio para crentes. No que a mim me diz respeito, agradou-me muito.
Para terminar, e numa linha secularista, ou anti-religiosa, “Deus não é grande – como as religiões envenenam tudo” de Christopher Hitchens, jornalista, escritor e crítico literário britânico e americano. Hitchens, juntamente com os ateístas Richard Dawkins, Sam Harris e Daniel Dennett, é frequentemente referido como um dos quatro "Cavaleiros do Ateísmo". Ele é humanista e antiteísta e acho curioso como os radicais islâmicos, os mesmos que puseram a cabeça a prémio ao Salman Rushdie por meia dúzia de versículos nunca puseram a sua por muito, muito mais maledicência. Aliás ele varre tudo, do islamismo, ao cristianismo e ao judaísmo ortodoxo e ultra-ortodoxo, até “bate” na Madre Teresa de Calcutá. A sua clarividência permitiu-me cimentar definitivamente a minha própria opinião acerca da religião e dos males que tem acarretado ao mundo e que ainda continua a acarretar. Considero-o, portanto, o livro mais importante que li até hoje, um livro de viragem de página, um livro que me trouxe uma nova perspetiva sobre um mundo dominado, espartilhado, corrompido sempre em nome de um deus menor.

3)Diga-nos a sua rotina semanal de leitura de jornais e outros periódicos.
No que diz respeito à leitura regular dos periódicos posso dizer que consultava regularmente diários digitais, andava obcecado com toda esta problemática associada à maldita austeridade, até que decidi que já bastava e, como já escrevi no meu “O Interior” de que sou colaborador regular, fartei-me de me castigar e em consequência desde há mais de um mês que não leio, não vejo, não oiço qualquer notícia, à exceção do dito semanário guardense, e mesmo esse muito transversalmente. É uma questão de saúde mental e com a saúde não se brinca, pois não?

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