José Carlos
Lopes,
professor de
Biologia e Geologia na ESAAG:
1)Em termos
de livros, o que anda a ler e o que tem lido recentemente?
Ando a ler o “Mixórdia
de temáticas” do Ricardo Araújo Pereira. Sei que vai parecer uma leitura pouco
recomendável, no entanto considero-o um dos mais brilhantes guionistas
portugueses de sempre. Possui um espírito mordaz e uma forma particular de ver
a sociedade portuguesa. Tive o prazer de participar com ele na recriação de
alguns dos “sketches” deste livro, aquando da sua vinda recente à nossa cidade.
Antes andava, e
andarei, a ler um livro de viagens de Joaquim Magalhães Couto intitulado “Mar
das Especiarias” que relata a sua passagem por algumas das centenas de ilhas
que compõem a nação da Indonésia. O que mais me marcou, até agora, é a grande
presença dos portugueses na sua cultura, gastronomia, e língua. Pois é, nomes
de família, nomes de ruas, nomes de objetos do quotidiano, estão bem vivos na
língua e dialetos indonésios. Assim temos os rajás Da Silva, o guardião Pareira
(Pereira), o sol sepatu (sola do sapato), pintur ( pintor), pidagu (fidalgo),
pilotu (piloto), grandi brebu (grande bêbado), djugador (jogador), doktor
(doutor), peskador (pescador), grandi kondi (grande conde), oriwis (ourives),
um marchador (mercador), enfim, milhares de termos de origem portuguesa
aculturados por este povo. Muito interessante, mas ainda não acabei de ler.
Em termos de romances
li “Os pilares da Terra” do Ken Follet. A história gira à volta da construção
de uma catedral num priorado na Inglaterra profunda e medieval e atravessa três
gerações. Dá-nos um instantâneo com uma definição extrema do que era o
sofrimento do povo às mãos dos senhores feudais e, principalmente da Igreja
católica. O poder obsceno que esta tinha nessa altura, bem como os jogos de
poder que se estabeleciam entre os poderosos deixando à margem, a morrer à fome
toda uma classe de desgraçados. Ontem como hoje a história ainda se repete.
2)Refira uma
impressão positiva de uma dessas leituras.
“O último segredo”, do
José Rodrigues dos Santos, pega na Bíblia e disseca-a ao pormenor, expondo as
contradições, imprecisões e incoerências existentes entre os vários evangelhos,
sempre com uma análise científica rigorosa e mordaz acerca dos personagens
bíblicos e que alega que Jesus, a ter existido, não passava de um dissidente da
religião judaica, um radical, e que terá criado uma seita, o cristianismo, que,
para conquistar rapidamente adeptos para a sua causa, anulou a obrigatoriedade
do descanso aos sábados ou sabath. Muito interessante, mas impróprio para crentes.
No que a mim me diz respeito, agradou-me muito.
Para terminar, e numa
linha secularista, ou anti-religiosa, “Deus não é grande – como as religiões
envenenam tudo” de Christopher Hitchens, jornalista, escritor e crítico
literário britânico e americano.
Hitchens, juntamente com os ateístas Richard Dawkins, Sam Harris e Daniel Dennett, é
frequentemente referido como um dos quatro "Cavaleiros do Ateísmo". Ele é humanista e
antiteísta e acho curioso como os radicais islâmicos, os mesmos que puseram a
cabeça a prémio ao Salman Rushdie por meia dúzia de versículos nunca puseram a
sua por muito, muito mais maledicência. Aliás ele varre tudo, do islamismo, ao
cristianismo e ao judaísmo ortodoxo e ultra-ortodoxo, até “bate” na Madre
Teresa de Calcutá. A sua clarividência permitiu-me cimentar definitivamente a
minha própria opinião acerca da religião e dos males que tem acarretado ao
mundo e que ainda continua a acarretar. Considero-o, portanto, o livro mais
importante que li até hoje, um livro de viragem de página, um livro que me
trouxe uma nova perspetiva sobre um mundo dominado, espartilhado, corrompido
sempre em nome de um deus menor.
3)Diga-nos a sua rotina semanal de
leitura de jornais e outros periódicos.
No que diz respeito à leitura regular dos periódicos posso dizer que
consultava regularmente diários digitais, andava obcecado com toda esta
problemática associada à maldita austeridade, até que decidi que já bastava e,
como já escrevi no meu “O Interior” de que sou colaborador regular, fartei-me
de me castigar e em consequência desde há mais de um mês que não leio, não
vejo, não oiço qualquer notícia, à exceção do dito semanário guardense, e mesmo
esse muito transversalmente. É uma questão de saúde mental e com a saúde não se
brinca, pois não?